quinta-feira, 14 de maio de 2009

DICAS DE FILMES.

¨A outra historia Americana¨,¨American History X¨ no original, conta a história de Derek Vinyard (Edward Norton), que regressa a casa, logo após sair da prisão, onde cumpriu uma pena de três anos por ter assassinado dois negros. Antes de ser preso Derek era racista, achava que nos Estados Unidos da América só havia lugar para os brancos e era o carismático líder de um grupo de skinheads. Mas agora é um homem diferente, a prisão mudou-o. Ao reencontrar o irmão, Danny Vinyard (Edward Furlong), Derek percebe consternado que este seguiu os seus passos e se transformou num skinhead.
Nas aulas de Sociologia analisaremos o filme recorrendo a alguns conceitos leccionados recentemente: cultura, diversidade cultural, etnocentrismo, subcultura, contracultura, socialização, identificação e agente de socialização.
O filme relaciona-se também com outros conceitos sociológicos que serão leccionados mais tarde: migrações, desigualdade, discriminação, reprodução social, controle social, família, etc.



CLUBE DA LUTA



O narrador do filme, Jack (interpretada por Edward Norton) é um executivo yuppie que trabalha como investigador de seguros de uma grande montadora de automóveis. Desiludido da vida, ele busca driblar suas crises de insônia e extravasar sua ansiedade em sessões de terapia grupal, ao lado de pessoas com câncer, tuberculose e outras doenças. É só no meio de moribundos que Jack se sente vivo e assim consegue dormir. Sua alegria só é interrompida pela chegada de Marla Singer (interpretada por Helena Bonham Carter), uma viciada em heroína com idéia fixa de suicídio. Repentinamente entra na sua vida o carismático Tyler Durden (Brad Pitt) que irá lhe apresentar um novo modo de vida, capaz de aliviar sua tensão existencial, o clube da luta, um clube de subcultura anárquica, onde homens põe à prova seu instinto animalesco em combates corporais. Fight Club expõe, com traços non-sense, a degradação existencial do homem na civilização burguesa. O agudo estranhamento em suas múltiplas dimensões se manifesta em sentimentos de necrofilia, de dessocialização, de desencantamento e de atitudes irracionalistas dos mais amplos espectros. A profunda frustração com a vida sem sentido é o terreno propicio para as manifestações de pura agressividade e de auto-destrutividade. O clube da luta sintetiza, em si, o espírito do mundo burguês degradado, em sua etapa neoliberal, imerso na lógica do mercado e da concorrência. Na verdade, a sociedade capitalista, em sua etapa de crise estrutural, de pleno irracionalismo, de vazio utópico e de agudo desencantamento com as possibilidades de transcendência da lógica da mercadoria, produz em si, elementos de colapso da vida pública e da sociabilidade. Ela contém os germes de destrutividade da própria civilização (o que os atentados terroristas de 2001 iriam demonstrar). Deste modo, Fight Club é um filme visionário das misérias do capital no vindouro século XXI. Produzido em 1999, Fight Club expõe, de forma quase fantástica, numa narrativa de estilo pós-moderna, ou seja, fragmentária e não-linear, os desvarios existenciais do capitalismo global, às vésperas do estouro da bolha especulativa em Wall Street.(2005)




Fahrenheit 9/11 ", de Michael Moore (2004)


Documentário político sobre como o Governo Bush se aproveitou dos atentados terroristas de 11/09 nos EUA para consolidar sua estratégia de negócio (a da familia Bush) e de poder imperialista (o dos EUA). Moore nos apresenta os vínculos de longa data dos Bush com a clã Bin Laden e a Arábia Saudita, que investiu, só nas últimas décadas, cerca de US$ 860 bilhões nos EUA; o Decreto Patriota, que atingiu as liberdades civis nos EUA a título de deter a ameaça terrorista; a cultura do medo, a invasão do Iraque, as oportunidades de negócios (com destaque para a empresa Halliburton), o recrutamento de jovens desempregados, a barbárie da guerra e a dor das perdas com soldados mortos. O documentário de Moore disseca, de forma quase didática, os vínculos entre poder político imperialista e interesses de negócios das corporações industrial-militar (mediado, é claro, pelos interesses da família Bush). Na verdade, torna-se claro neste documentário de Moore que a família Bush se apropriou do Estado para defender seus interesses particularistas. Os limites de Fahrenheit 9/11 é seu viés planfetário – panfleto do Partido Democrata. Sua crítica do sistema de poder imperialista nos EUA é bastante limitada, tendo em vista que não salienta que não são apenas os Republicanos que se apropriam do Estado político para a defesa de seus interesses familiares e de classe, mas inclusive os Democratas (que apoiaram, por exemplo, a invasão do Iraque). Enfim, talvez Bush seja apenas o lado mais décrepito de um sistema apodrecido do poder mundial do capital, que dilacera não apenas os EUA mas todo o mundo com sua sanha imperialista. Na foto acima, a perene expressão de G.W. Bush às 9: 05 A.M. do dia 11 de setembro de 2001, exato momento do ataque terrorista ao World Trade Center em Nova York. O que estaria passando por aquela cabeça?(2005)


"Pulp Fiction (Tempo de Violência)", de Quentin Tarantino (1994)

Dois assassinos profissionais Vincent Veja (interpretado por John Travolta) e Jules Winnfiel (Samuel L. Jackson) - devem fazer cobrança para um gângster; Vincent é forçado a sair com a garota do chefe, Mia Wallace (Uma Thurman), temendo passar dos limites; enquanto isso, o boxeador Butch Coolidge (Bruce Willis) se mete em apuros por ganhar luta que deveria perder. Quentin Tarantino dirige esta homenagem à literatura pulp dos anos 40, contando uma história que envolve um gângster, um boxeador e dois assassinos profissionais. Nesse filme, Tarantino faz uma homenagem à literatura pulp. É importante observar que a pulp fiction surgiu em 1896 nos EUA como uma opção de leitura e diversão para uma grande massa de trabalhadores que emigrava do campo para a cidade, formando o que seria chamado de sociedade de massas (o salário médio de um operário era de 7 dólares semanais e o preço dos pulps não pesavam no bolso). A partir da década de 1920 os pulps entraram em decadência devido à concorrência do rádio e do cinema. A mitologia criada pelos pulps é tão forte que impregnou o cinema, os quadrinhos e a imaginação de milhões de pessoas no mundo todo. De Indiana Jones ao Super-homem, a cultura pop deste século deve muito aos pulp fictions. O cinema de Tarantino pode ser considerado um pulp cinema, onde diversão e literatura (ou roteiro de alta qualidade) buscam atrair o público de massa. Na verdade, eis o espírito puro da Sétima Arte segundo o mestre Georges Mélies. Por outro lado, a pulp fiction de Tarantino é pós-moderna. O universo de Tarantino é despedaçado. Ele tende a incorpora a sintaxe simbólica do capitalismo global e seu caos sistêmico. A narrativa de Pulp Fiction possui uma temporalidade fragmentária e descontínua. No filme, Tarantino altera a causalidade natural dos acontecimentos. De fato, ao alterar a seqüência temporal do filme, Tarantino “flexibiliza” a causalidade. Por outro lado, as contingências produzem inflexões significativas na trama filmica. Em Pulp Fiction os personagens são conduzidos pelo acaso e pelo desconhecido. Talvez a violência que permeia o filme seja expressão deste universo de casualidades quase-transcendentes. Em cada detalhe contingente, um gesto de violência concentrada. Como observa Julio Cabrera, “os filmes de Tarantino são uma curiosa e irritante filigrana de coincidências e pequenas fatalidades.” É o que ocorre quando se submerge na lógica terrível do capitalismo pós-moderno. Um detalhe: ao dançar twist com Mia Wallace, Vincent exala uma nostalgia kitsch dos anos dourados do capitalismo americano.(2005)

segunda-feira, 11 de maio de 2009

BRASIL: MOVIMENTO DOS TRABALHADORES RURAIS SEM-TERRA (MST)

Foi em 1984, durante o 1º Encontro dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, em Cascavel (PR), que o MST foi fundado oficialmente. No ano seguinte e já organizado nacionalmente, acontece o 1º Congresso Nacional dos Sem Terra.
Contando desta forma parece que foi tudo muito fácil. Mas o MST não surgiu do nada ou da cabeça de apenas uma pessoa. Esta história começou no final da década de 70, em plena ditadura militar. O país vivia o chamado “milagre brasileiro”, que para os pobres do campo e da cidade estava mais para “praga brasileira”: desemprego e migração dos camponeses para as cidades. A intensa mecanização da agricultura introduzida pelos governos militares expulsou assalariados, arrendatários e parceiros do campo.
Mas havia camponeses que acreditavam que podiam se organizar e resistir trabalhando na terra. Assim, em 7 de outubro de 1979, agricultores sem terra do Rio Grande do Sul ocupam a gleba Macali, em Ronda Alta.
Ao mesmo tempo, lutas semelhantes foram acontecendo nos demais estados do Sul, Mato Grosso e em São Paulo. Em cada Estado surgiam ocupações de trabalhadores rurais e a notícia se espalhou. A sociedade brasileira aderiu e as ocupações dos sem terra foi uma das manifestações pela volta da democracia em todo o país.
O MST, no entanto não é o primeiro movimento a lutar pela terra no Brasil e na América Latina. Muito antes, as famílias agricultoras já se organizavam em busca de terra e melhores condições de trabalho e vida. Podemos citar como exemplo, as Ligas Camponesas e o Master (Movimento dos Agricultores Sem terra) entre 1950 e 1964; Canudos e Contestado no final do século 19. A revolução mexicana, no início do século 20 e a cubana, em 1959, também foram sinônimo de “terra para quem nela trabalha”. Estas e outras lutas inspiraram o MST a seguir lutando por um Brasil sem Latifúndio.
Aos poucos o MST foi entendendo que conquistar a terra é importante, mas não basta. É preciso conquistar também crédito, moradia, assistência técnica, escolas, atendimento à saúde e outras necessidades da família sem terra que também precisam ser supridas. E mais: descobriu-se que a luta não é apenas contra o latifúndio; é contra o modelo econômico neoliberal.
Assim, foram organizados acampamentos, ocupações de fazendas, sedes de organismos públicos e de multinacionais, destruição de plantações transgênicas, marchas, greves de fome e outras ações políticas.
Hoje o MST atua em 23 estados, envolvendo mais de 1,5 milhão de pessoas, cerca de 350 mil famílias foram assentadas através desta luta e outras 80 mil vivem em acampamentos.
Em números, podemos confirmar que a Reforma Agrária dá certo. Existem hoje cerca de 400 associações de produção, comercialização e serviços; 49 Cooperativas de Produção Agropecuária (CPA), com 2299 famílias associadas; 32 Cooperativas de Prestação de Serviços com 11.174 sócios diretos; duas Cooperativas Regionais de Comercialização e três Cooperativas de Crédito com 6521 associados.
São 96 pequenas e médias agroindústrias que processam frutas, hortaliças, leite e derivados, grãos, café, carnes e doces. Tais empreendimentos econômicos do MST geram emprego, renda e impostos beneficiando indiretamente cerca de 700 pequenos municípios do interior do Brasil.
Aliada à produção está a educação: cerca de 160 mil crianças estudam da 1ª a 4ª série nas 1800 escolas públicas dos assentamentos. São cerca de 3900 educadoras/es pagos pelos municípios e desenvolvendo uma pedagogia específica para as escolas do campo. Em conjunto com a Unesco e mais de 50 Universidades, o MST desenvolve programa de alfabetização de aproximadamente 19 mil jovens e adultos nos assentamentos.
O MST, ousando desafiar a estrutura secular do latifúndio no país, mostra-nos que a população trabalhadora não é apenas capaz de organizar-se mas, especialmente, que é eficiente na luta para ocupar a terra e para fazê-la produzir.

OS MOVIMENTOS SOCIAIS

“Os movimentos sociais, na pratica, são a representação da sociedade como organização, que os utiliza como instrumentos de ação num contexto histórico especifico. O conflito de classe e os acordos políticos são, conseqüentemente, canais dos movimentos para atingir seus fins.”
“O movimento deixa de ser apenas a expressão de uma contradição socioeconômica, e acaba sendo responsável pela detonação e pelo desenvolvimento dos embates de grandes proporções.”
Teoricamente podemos classificar os movimentos sociais em três categorias:
1) movimentos reivindicatórios; são movimentos presos a reivindicações imediatas, esforçam-se em pressionar instituições para alterar dispositivos que teoricamente lhes favoreciam. Têm um horizonte sem dúvida limitado, considerando que seus fins são relativamente simples e não vão além de demandas pontuais especificas. Ex. “Estou no vermelho” movimento de greve dos professores da Uel por melhorias salariais.
2) Movimentos políticos; tenta influenciar nos meio utilizados para se atingir os caminhos condutores a participação política direta. Também se esforçam, no decorrer do processo para mudar a correlação de forças, influindo nos grandes debates travados com outros grupos adversários. Ex. Movimento das Diretas Já! 1984.
3) Movimentos de classe; seu intuito seria o de subverter a ordem social de um período determinado e, conseqüentemente, transformar as relações entre os diferentes atores do contexto nacional, assim como os meios de produção, fazendo avançar as exigências da classe em ascensão, em superação histórica e na sua pressão para se posicionar como elemento hegemônico no processo econômico e político do país. Ex. MST (movimento dos trabalhadores rurais sem-terra)

(Fonte: MAURO, Gilmar e PERICÁS, Luiz B. Capitalismo e Luta Política no Brasil na virada do milênio, ed. Xamã, SP:2001.)

ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DOS MOVIMENTOS SOCIAIS

Para conhecermos como é um movimento social, vamos nos apoiar no livro de Ilse Scherer-Warren, Movimentos sociais, uma interpretação sociológica, destacando os elementos que compõem o campo de analise: o projeto, a ideologia e a organização.

O projeto
O projeto significa a proposta de um movimento, que pode ser, como vimos, de mudança ou de conservação das relações sociais, assim, todo movimento social contém um projeto, e quando nos perguntamos qual o projeto de um movimento, estamos pensando em seus objetivos, em suas metas, enfim, no que o movimento pretende.
Para um movimento social atingir os objetivos a que se propõe, é necessária uma certa estratégia, procedimentos adequados que possibilitem o sucesso da ação coletiva. Ao mesmo tempo em que o projeto revela o desejo, a intenção de um movimento, ele nos mostra como os seus participantes se vêem – o que demonstra a consciência de sua força, bem como a força de seu adversário, contra quem o movimento se dirige.
A complementação dessas idéias sobre o projeto, ou da apreensão de seu conteúdo, deve ser feita levando-se em consideração a analise dos outros elementos.

A ideologia
A ideologia corresponde às idéias que os homens fazem da sociedade em que vivem. Quando elas expressam “corretamente” as relações existentes, mostrando os interesses que animam as relações, podemos dizer que a ideologia se constitui num instrumento de luta dos grupos sociais. Se, ao contrario disso, as idéias não correspondem a realidade das relações de opressão existentes, poderemos dizer que se trata de um “falsa consciência”. Nesse sentido, a ideologia atuaria como uma forma de massacramento das reais condições de opressão, atendendo, por conseguinte, aos interesses dos grupos dominantes.
É a ideologia que fundamenta os projetos e as praticas dos movimentos e define o sentido de suas lutas. A própria forma de organização e direção de um movimento revela seu caráter ideológico.

A organização
Os movimentos sociais possuem uma organização hierárquica que pode ser descentralizada ou comum a estrutura definida com lideres e demais participantes do movimento.
A forma de organização de um movimento social tem conseqüências importantes com relação a sua dinâmica interna e externa. Internamente, observa-se que uma organização sem a devida hierarquia entre liderança e base pode favorecer um certo espontaneismo das ações, o que levaria a falta de controle do movimento, resultando em seu próprio prejuízo. Por outro lado, uma organização fundada num corpo de lideres afastados da base pode ser conduzida a praticas autoritárias e elitistas, com os demais participantes desempenhado o papel de “massa de manobra”.